O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), afirmou nesta quarta-feira que toda crise política tem hora pra acabar, o que, na avaliação dele, está perto de acontecer com a que assola a Casa desde o início do ano. “Teve uma grande repercussão, durou bastante e agora, como todas as crises políticas, ela tende a passar, as crises não são eternas. Eu acredito que nós estamos começando essa fase de descongelamento”, afirmou.
Em entrevista ao Terra, o presidente afirmou que foi vítima de um “linchamento” político semelhante aos que ocorriam no período de inquisição e mais uma vez atribuiu a crise vivida ao apoio que ele sempre deu ao governo Lula. “Eu fui submetido a um verdadeiro linchamento e um linchamento muito singular, que era quase kafkiano. É mais ou menos o que acontece na inquisição, lá também a primeira pergunta que eles faziam na inquisição é: ‘do que você se sente culpado?'”, disse.
Para Sarney, todas as denúncias contra ele – passando pelo suposto favorecimento de parentes via ato secreto e todas as outras – são fracas e sem a menor consistência. “Foi uma campanha que eu acho que raramente se fez no Brasil com essa violência, essa virulência com coisas absolutamente secundárias, pequenas, que não tinham nenhuma consistência”, afirmou.
Ao ser questionado se a crise estava no hall dos momentos mais difíceis que ele enfrentou em toda a sua trajetória política, o presidente foi taxativo. “Eu colocaria (a crise) como o momento mais difícil, porque realmente, na minha idade, eu jamais pensei que isso pudesse ocorrer. Até mesmo porque eu confesso que durante os 50 anos que estou aqui, eu nunca fui acusado de nada”, afirmou. “Vi vários escândalos, mas nunca meu nome esteve presente, nenhum processo, nenhuma denúncia, nada.”
Entre os fatos “sem consistência” dos quais foi acusado, Sarney destacou a denúncia de que ele teria usado de sua influência para conseguir emprego para o namorado de sua neta. “De repente eu vi ‘o namorado de sua neta está sendo nomeado’ e aí eu descubro que o namorado da minha neta, por esse novo código civil, também está incluído na lista dos parentes. Me lembro até do Brizola (Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro) quando ele dizia ‘cunhado não é parente'”, disse. “Ora, como o namorado da neta, que já não é nem mais namorado, já até acabou o namoro.”
Desde que assumiu o comando do Senado, José Sarney é acusado de cometer uma série de irregularidades, que incluem responsabilidade na edição dos chamados atos secretos, desvio de recursos de um patrocínio feito pela Petrobras à fundação que leva seu nome, além da prática de tráfico de influência em favor do namorado de uma neta sua. As 11 ações contra o peemedebista, protocoladas no Conselho de Ética, foram arquivadas. O senador nega as acusações.
Fonte: Notícias Terra