28 jun 2009 @ 5:29 PM 

“Editorial

Já se passaram mais de 2.400 anos desde que ele morreu, em Agrigento, uma cidade que fica na Sicília. Hoje é a Itália, mas na primeira metade do século V a.C., era uma terra de gregos (a chamada Magna Grécia). Ali nasceu, viveu e, enfim, morreu Empédocles, provavelmente entre 490 e 430 a.C. Dizia que duas forças elementares regiam o universo: o Amor, que une, e o Ódio, que separa; forças que atuariam sobre os quatro elementos básicos que formam a realidade física: água, ar, fogo e terra. Enfim, fundamentos de alquimia, se bem que há quem aponte suas raízes nalguns milênios antes, entre sumérios (no atual Iraque bombardeado) e egípcios.

Alquimia é uma palavra interessante. Vem do árabe al-khimia e se traduz por “a química”. Simples assim. Mas em tempos de pouca ciência e muita superstição, queimaram-se químicos por suspeitá-los conectados ao “arcanjo decaído”, Lúcifer (Lux ferre): o produtor/portador da luz, ente celestial de primeira grandeza que se enebriou com o poder a si confiado por Deus e pretendeu-se mais poderoso que o próprio Criador. O mote perfeito para sacerdotes ensandecidos que, colocando-se na condição de mandatários divinos, levaram milhares à fogueira: químicos, astrônomos, mulheres especialistas em ervas (curandeiras), filósofos. Enfim, hereges. Heresia é outra palavra interessante. Vem do grego hairesis e se traduz por opinião, escolha, opção. Seria pecado recusar o que lhe é dito para pensar livremente e buscar a verdade.

Claro que os alquimistas não eram meros químicos. Estavam mais próximos da Filosofia e das investigações espirituais. Ao contrário dos cientistas d’hoje em dia, nos laboratórios alquímicos se buscava a essência da Vida, ao que serviam não só os quatro elementos fundamentais, mas também o Amor e o Ódio, unindo e separando. Por tal via, mais do que constituir reações químicas ou físicas, o alquimistas trabalhavam sobre si mesmo, cunhando – ou tentando cunhar – sabedoria. Entender como atuam as forças amorosas e odiosas sobre os pares opostos que diagramam a realidade: alto e baixo, escuro e claro, molhado e seco, bom e ruim, certo e errado etc.

Curioso falar em pares opostos, linhas após falar em heresia, ou seja, em escolha e opção, em construção de si mesmo. Afinal, essas referências permitem deslocar meu olhar e concluir, de um jeito absurdo, que soluções e problemas não estão aí fora, no mundo, mas aqui dentro, em mim. Mas não é? A carne de porco que nos delicia na feijoada de sábado causa repulsa em judeus e mulçumanos, considerada impura, suja. Em algumas regiões da China e da Coreia, aprecia-se a carne dos cães, iguaria que a maioria de nós recusaria enojado. Há homens que matam suas esposas por suspeitarem-nas infiéis; outros as expoem nuas na internet, felizes por verem-nas infiéis. A dor que desespera uns, delicia outros. O que é bom? O que é ruim? Ao que permitirei o efeito de tornar minha vida miserável?

Os alquimistas se entregaram à Grande Obra (Opus Magna): obter a Pedra Filosofal que lhes permitiria prolongar a vida, transformar qualquer metal em ouro e, mesmo, aproximá-los de Deus. Pergunto-me se não seriam suas almas ou, quiçá, seus corações, o objeto dessa busca. A grande obra não seria criar em mim a Pedra Filosofal? Compreender as forças de Amor e Ódio, entender que o fogo dos dias molda a mim e pode me fazer compreender que a realidade está além das aparências, como dizia Parmênides: que tudo é uno, e, para além disso, que tudo é divino, como não se cansam de repetir os sufis árabes. E, então, eu poderia perceber que há ouro nos enferrujados ferros velhos do meu cotidiano.

Quando as cidades gregas já não estão em seu explendor, subjulgadas pelos macedônios, de Filipe e Alexandre, um filósofo se alojou num jardim: Epicuro. Ali, pregava aos seus discípulos uma vida simples, marcada pela busca do conhecimento que permitiria afastas a dúvida e o engano do espírito. Ensinava, ainda, os benefícios da busca pela satisfação sábia, ou seja, o prazer das coisas simples. Ao satisfazer-me com o que tenho, com o que vida me proporciono, acabo por me libertar do desejo do que não tenho – talvez nem possa ter. Livro-me, assim, do sofrimento do que não tenho, trocando-o pelo prazer do que a vida me proporcionou.

Agora, só me falta ler este texto várias vezes e aprender e viver. Escrever é sempre fácil.

Com Deus,

Com Carinho,

Mamede.

Fonte: Pandectas

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Posted By: TFSN
Last Edit: 29 jun 2009 @ 05:29 PM

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