Ex-presidente do Banco Central no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso foi ouvido ontem pela Comissão de Assuntos Econômicos. Cabe ao país, disse, “abrir o olho, mas não há razão para achar que vamos viver o mesmo que acontece lá fora”.
O Brasil precisa ter calma neste momento de crise financeira internacional, mas o país tem alguma folga e pode conseguir passar pela crise sem maiores problemas, opinou o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, ontem, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Ele participa de um fórum permanente de discussão sobre a crise financeira internacional promovido pelo colegiado. O economista presidiu o Banco Central entre 4 de março de 1999 e 1º de janeiro de 2003, no governo de Fernando Henrique Cardoso.
– Para o Brasil, haverá uma desaceleração importante, uma vez que ocorre uma queda na demanda global e as commodities vêm caindo de preço. Mas temos um sistema financeiro bem capitalizado, embora tenha passado por exageros como no financiamento de automóveis em nove anos e também na concessão de crédito consignado. Cabe abrir o olho, mas não há razão para achar que vamos viver o mesmo que acontece lá fora.
Na análise de Fraga, o Banco Central brasileiro vem reagindo adequadamente à crise. Para ele, cabe ao governo procurar amortecer o choque da crise internacional com uma atuação de “guerrilha no dia-a-dia”, atacando os gargalos que forem aparecendo. O economista advertiu que o ritmo de crescimento da economia brasileira deve diminuir.
A arrecadação também deve cair no próximo ano, acredita Fraga, uma vez que o crescimento mundial em 2009 deve ficar em torno de 1%. O ex-presidente do Banco Central prevê, porém, um efeito favorável da crise: a possibilidade de uma queda de juros quando a situação econômica melhorar.
Intervenção Armínio Fraga disse que a crise financeira global, “a maior em muitas décadas”, sucede num período de enorme prosperidade pelo qual o mundo passou. No período de entusiasmo, entretanto, a “disciplina [do mercado financeiro] foi desaparecendo” e começaram a surgir “exageros e desequilíbrios”. Hoje, ressaltou, os principais sistemas financeiros do mundo estão garantidos por seus governos.
– A única estabilidade que ainda sobra é a do governo – frisou. O ex-presidente do BC afirmou que, embora seja uma idéia interessante, a instituição de um banco central mundial é de difícil implementação. No entanto, ele considera viável a disseminação de mecanismos globais no sentido de uma melhor regulamentação do sistema financeiro, o que considerou essencial.
Ao comentar alternativas para o Brasil, Fraga observou ser importante o governo sinalizar com reformas que garantam um equilíbrio fiscal de longo prazo e alavanquem a infra-estrutura do país. Ele não crê que o dólar chegue a R$ 3.
– Não é minha expectativa, mas não é impossível.
Fonte: Jornal do Senado