17 set 2008 @ 6:41 PM 

“A Fed manteve ontem as taxas de juro, o que pode dificultar a vida à maior seguradora norte-americana. Aguarda-se o veredicto do mercado.”

“Depois do furacão gerado pela declaração de falência do Lehman Brothers, que a administração norte-americana deixou cair, e pela venda apressada e com forte desconto da Merril Lynch ao Bank of America, o dia de ontem conseguiu ser pior. As bolsas arrancaram dominadas pelo pessimismo quanto à sobrevivência da American International Group (AIG), a maior seguradora norte-americana, e ao longo do dia foram surgindo sinais contraditórios sobre a possibilidade de salvação da companhia. Mas até ao fecho desta edição nada havia que garantisse a sua sobrevivência.

O mundo financeiro esteve suspenso das intensas negociações para tentar salvar o gigante que está presente directamente em 130 países do mundo, incluindo Portugal (ver texto). Tem inúmeros instrumentos financeiros, incluindo planos de poupança reforma, junto de particulares. Ao desespero dos clientes, mais de 74 milhões em todo o mundo, e de grandes bancos mundiais, que os responsáveis da empresa tentaram acalmar, junta-se o dos accionistas, que estão a assistir à diluição quase total do valor das acções. No final do ano passado, cada título valia 58 dólares. Ontem, cotou a 1,25 dólares.

A agonia da seguradora foi agravada ontem com o corte de rating (avaliação do risco) da seguradora por parte da Standard & Poor’s e da Moody’s e por informações de que a companhia não conseguiu arranjar um empréstimo de 80 mil milhões de dólares, para resolver problemas de liquidez.

A meio da tarde surgiram notícias contraditórias, que minimizaram as quedas dos índices bolsistas europeus, e que conseguiram fazer inverter as bolsas de Wall Street para terreno positivo. Essas notícias davam conta de que a Casa Branca poderia voltar atrás e conceder uma ajuda estatal, via Reserva Federal, à terceira maior seguradora do mundo. Mas a notícia não foi confirmada oficialmente, prevalecendo a declaração do governador do estado de Nova Iorque, de que a AIG tinha apenas um dia para levantar o dinheiro necessário à sua gestão corrente. A declaração de David Paterson deixou evidente que as negociações que envolviam o JP Morgan Chase, a Goldman Sachs, que representa um grupo de potenciais investidores, e a Morgan Stanley, em representação da Reserva Federal (Fed), não tinha sido conclusiva.

A decisão da Fed de manter as taxas de juro, contra a expectativa de corte em 0,25, para 1,75 por cento, dando sinais de maior preocupação com a inflação do que com a crise financeira, pode mesmo dificultar a vida à AIG no mercado, onde tem de garantir financiamento, ou ser comprada ou retalhada.
Desespero das autoridades

Para tentar minimizar a crise financeira, que está a gerar fortes desvalorizações noutras instituições, apresentadas como as próximas vítimas (Washington Mutual e o inglês HBOS), os maiores bancos centrais realizaram ontem gigantescas injecções de capital nos mercados. Esta iniciativa, que visa garantir abundância de dinheiro nas instituições, ajudou mas não conseguiu evitar alguma subida das taxas de juro nos mercados interbancários, especialmente nos Estados Unidos e na Europa (Euribor).

A dimensão da cedência de liquidez – 100 mil milhões do Banco Central Europeu em dois dias, 50 mil milhões da dólares colocados ontem pela Fed norte-americana e 25 mil milhões de euros do Banco de Inglaterra – revela as preocupações dos bancos centrais face à crise, que o director executivo do Fundo Menetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, classificou de “sem precedentes”.

Depois das quedas muito violentas nos índices bolsistas asiáticos, da ordem dos cinco por cento, influenciados pela queda gigantesca da véspera das bolsas americanas, Strauss-Kahn apelou à calma. “O facto de um certo número de bancos nos Estados Unidos estar em vias de reestruturação não deve levar ao pânico”, disse o responsável do FMI. Mas o responsável deixou um alerta pessimista, ao considerar que “certas partes do mundo são mais ou menos afectadas, mas o abrandamento é geral. Toda a economia mundial vai desacelerar entre meio ponto e dois pontos, incluindo a China e a Europa”.

Não é mau para todos.

Mesmo que a AIG escape à falência imediata, é sempre mais uma vítima da crise gerada pela concessão de crédito de alto risco, o chamado subprime, que muitos americanos deixaram de poder pagar, e que tomou proporções gigantescas porque o valor das casas desvalorizou e muitas instituições financeiras entraram em ruptura, criando um efeito dominó no mercado.

A seguradora está presente no leasing (aluguer-venda) de aviões, nos empréstimos imobiliários e ao consumo e tem uma forte exposição, através da AIG Financial Products (AIGFP), a produtos de alto risco, credit default swaps (CDS), instrumentos financeiros que seguram os investidores contra a falta de cumprimento de um emissor de obrigações.

Ao coro dos que dizem que o pior está para vir na crise financeira juntou-se ontem o presidente da Câmara de Nova Iorque, Michael Bloomberg. E os sinais de eventuais de novas vítimas continuam a adensar-se. Ontem mesmo, as acções do Washington Mutual, o maior banco de empréstimos e poupanças dos EUA, registaram uma forte queda depois de a Standard & Poor’s ter cortado a notação da dívida para junk (sem valor).

Na Europa, onde já três bancos foram nacionalizados por causa da exposição ao subprime, o Halifax Bank of Scotland (HBOS) registou ontem uma forte desvalorização, mais de 40 por cento, por desconfiança dos investidores em conseguir fundos para refinanciar a dívida. O HBOS é o maior banco hipotecário do Reino Unido.

Mas as falências não são más para todos. Ontem mesmo, a resseguradora alemã Munich Re manifestava interesse em alguns activos da AIG e o banco inglês Barclays anunciou a compra ao falido Lehman Brothers de uma sociedade participada por dois mil milhões de dólares.

58 dólares era o preço de cada acção da AIG no final do ano passado. 1,25 dólares era a cotação de cada acção da AIG na sessão de ontem. Esta quebra reflecte as dificuldades da empresa e a pressão vendedora sobre os títulos, sobretudo nas duas últimas sessões, após o mercado ter tido conhecimento das graves dificuldades financeiras por que passa a seguradora.”

Fonte: Público.pt

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Posted By: TFSN
Last Edit: 17 set 2008 @ 10:41 PM

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Categories: Diversos, Geral


 

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