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A definição de José Sarney (AP) como candidato do PMDB à Presidência do Senado, na quarta-feira (28), intensificou a disputa pelos cargos máximos nas duas Casas do Congresso Nacional.

Apesar de o deputado Michel Temer (SP), candidato oficial do PMDB à Presidência da Câmara, assegurar que o fato não tem influência nenhuma na disputa dos deputados, os demais candidatos acreditam que uma vitória de Sarney no Senado pode aumentar as chances de a eleição ser decidida no segundo turno na Câmara.

Em entrevistas concedidas nesta semana, Michel Temer afirmou que não teme traições dos integrantes dos 14 partidos que oficializaram o apoio a sua candidatura. A criação do chamado “blocão”, também na quarta-feira, reuniu PMDB, PT, PSDB, DEM, PR, PDT, PTB, PV, PPS, PSC, PHS, PTdoB, PTC e PRB.

Além de Temer, disputam a Presidência da Câmara os deputados Aldo Rebelo (PCdoB-SP), Ciro Nogueira (PP-PI) e Osmar Serraglio (PMDB-PR).

Mudanças nos votos

Pelas contas do PMDB, Temer já teria o apoio de, pelo menos, 300 deputados. Mas o número pode ser ainda maior, caso as desistências previstas por jornalistas e colunistas na imprensa não se confirmem. Para esses analistas, com a vitória de Sarney no Senado, votos da bancada petista na Câmara seriam transferidos para os outros concorrentes.

Já o presidente Arlindo Chinaglia considera que, dificilmente, haverá surpresas no resultado da eleição. Ele lembrou que todos os candidatos sabiam do acordo pré-estabelecido para a sucessão na Casa. Na avaliação de Chinaglia, a existência de quatro candidaturas não traz riscos à instituição porque esse, ressalta, é um processo democrático.

Questionado se as chances de Aldo Rebelo e Ciro Nogueira cresceram com a definição de Sarney no Senado, Chinaglia disse que essa análise só pode ser feita por uma equipe com experiência. “É comum que o grupo de apoio a um candidato valorize suas possibilidades e, às vezes, há erros”, destacou. “A minha vitória foi um exemplo, porque havia a expectativa de vitória em primeiro turno, mas o resultado só foi confirmado no segundo turno, enquanto candidatos que achavam que ganhariam acabaram perdendo.”

Voto secreto

As possíveis mudanças nos votos dos partidos que compõem o “blocão” foram negadas várias vezes ao longo da semana pelos líderes dos partidos. Mas o candidato Osmar Serraglio acredita que o voto secreto pode trazer surpresas para todos. “O voto secreto é um instituto democrático dado ao cidadão para que ele não seja submetido a qualquer intromissão”, opinou.

Na avaliação de Serraglio, “o rolo compressor que havia está esmaecendo”. Segundo ele, a candidatura de Sarney já está interferindo na eleição da Câmara. “Quem andar pelos corredores, quem telefonar para os deputados vai ver que está havendo um burburinho total aqui. Há um clima de ninguém sabe o que vai acontecer. Está tudo por ser configurado ainda”, observou.

Quando questionado se o fato de também ser do PMDB poderia prejudicá-lo, pelo mesmo motivo que pode tirar votos de Temer, Osmar Serraglio ponderou que isso realmente pode acontecer. Mas destacou que o fato de Temer ser presidente do PMDB amplia a convicção dos demais parlamentares sobre o excesso de poder na mesma legenda.

Chances

Já Ciro Nogueira disse “ter rido” das previsões de que Michel Temer já teria mais de 400 votos garantidos. E lembrou o número de votos obtido por João Paulo Cunha (PT-SP) na eleição em que foi o único candidato: 434 de um total de 484 votos válidos.

“Se fosse a eleição para a presidência do sindicato dos partidos, já teríamos um vencedor. Mas, como é para a Presidência da Câmara, com voto secreto, todos têm chance”, acredita.

Aldo Rebelo, por sua vez, não admitiu que a candidatura de Sarney ao Senado altere o resultado da eleição na Câmara. Mas afirmou que há, entre os deputados e senadores, uma preocupação “sobre a possibilidade de um único partido ter o domínio sobre as duas instituições do Poder Legislativo”.